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[Do som mais sujíssimo que anda aí] 
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    Calvin
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Bolas para a sorte



Os directos com reportagens inconsequentes são uma tentação incontornável para os responsáveis pelos blocos noticiosos das televisões. E quando há Jackpot do Euromilhões é um fartote dos bons. Nestes dias é quase impossível ver um Telejornal sem apanhar com um directo para um sítio qualquer (da Casa da Sorte no Chiado até ao Mercado de Matosinhos) para ouvir gente qualquer falar de qualquer coisa. Como se o pobre espectador não tivesse já a sua dose suficiente de vulgaridade incluída no seu quotidiano.

Invariavelmente, as perguntas ao povão são sempre as mesmas, sendo a mais frequente saber o que o popular fazia com tanto dinheiro. Excluindo os que não fazem ideia do que fariam, os desprevenidos que ainda tentam responder, basicamente enumeram o que querem fazer mesmo que não ganhem o Euromilhões: Viajar, comprar uma casa melhor e partilhar a fortuna com os filhos. São longos e demorados minutos disto. Penoso e inevitável.

Quanto aos apostadores, já sabemos como são. Há os amadores e os profissionais. Uns sabem que não podem ganhar se não jogarem; outros acham que é uma questão de tempo até ganharem. Uns têm esperança; outros têm fé. Uns têm pena de não ter acertado quando mais ninguém acertou; outros regozijam-se por ir ganhar muito mais dinheiro na semana seguinte.

À parte das posturas face ao jogo, ambas as estirpes de apostadores partilham o mesmo comportamento na hora de registar o seu palpite. Estas hordas fazem fila nas casas de apostas, de uma maneira altamente improvável e que sempre me deixou de boca aberta: apesar de serem dezenas de pessoas à espera (e atenção que não são apenas pessoas à espera - são portugueses à espera), nunca vi a mínima confusão nestes sítios. É uma freguesia calma, ordeira e respeitadora, a que deposita a fé nos números. Se fosse numa repartição de finanças ou à espera de uma mesa num restaurante, em cada dezena dos presentes, um tentaria arranjar maneira de ser atendido antes da sua vez. Já para entregar o boletim do Euromilhões só conseguimos ver multidões imóveis e silenciosas, como fiéis numa igreja (Provavelmente estarão mesmo a rezar, agarradas ao boletim e às notas como se do missal se tratasse). Criaturas que se calhar meia-hora antes quase esmurravam o patrão, estão agora a emprestar canetas a desconhecidos.

E é o que se extrai de tudo isto? Que as pessoas, perante a possibilidade de ganhar uma quantidade estúpida de dinheiro, estão dispostas a pulverizar rios de dinheiro para que tudo fique na mesma e enquanto dura o sonho ficam dóceis e cívicas. Deve ser isto a que chamam a magia dos números.

[Blogger Fixemobil]: Oh não! Agora estragaste a magia! Nunca mais jogo no euromilhões! (pelo menos até sexta-feira)
 
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