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Andava eu a vasculhar o baú de infância e dei de caras com o Monopólio, instrumento lúdico e educativo como não havia igual. Com ele, as crianças preparavam-se para a vida real. Aprendiam a negociar e a maximizar o seu lucro. Percebiam que acumular a posição de jogador com a de banqueiro era extremamente proveitoso, caso a sua estratégia não enjeitasse a trafulhice. Tudo isto contribuindo para atingir o glorioso objectivo final - levar à ruína os adversários. Não admira que continue a ser um jogo saudosamente popular entre os adultos. Hoje em dia não sei, mas na altura em que eu jogava Monopólio toda um variadíssimo leque de aspectos da vida adulta eram apresentados aos jovens jogadores através dos cartões da Sorte e da Caixa da Comunidade. Sem se aperceberem, as crianças eram apresentadas ao futuro que as aguardava. Graças àqueles pequenos cartões, as crianças aprendiam a desempenhar os muitos papéis que a vida de adulto lhes exigiria. Por exemplo, o papel de típico condutor português: O jovem gestor aprendia que a velocidade e a embriaguez são coisas más ao volante, ainda que não seja possível escapar-lhes. Outro aprendizagem era descobrir que há despesas incontornáveis: Note-se a graça de ter que pagar a conta do médico. No universo do Monopólio é impensável ir ao médico da Caixa. Mas nem tudo é mau. Para fazer frente a todas estas adversidades, podemos sempre optar pela carreira da agiotagem: Era também feita a antevisão de outro momento de regozijo à volta das finanças pessoais - o reembolso do IRS: Não são esquecidos outros tipos de actividades que podem gerar riqueza considerável: Importa reter dois detalhes acerca deste cartão, ambos relacionados com a relativização. Em primeiro lugar, notem que se trata do segundo prémio e não do primeiro. Faz todo o sentido. Há que incutir algum sentido de humildade na criançada e é necessário mostrar-lhes que aquela tia que nos esborracha enquanto dá beijos húmidos não está a ser inteiramente objectiva quando diz que somos a coisinha mais linda do mundo. O segundo aspecto a considerar é o valor do prémio. Maior do que os juros do empréstimo a 7% e o reembolso do IRS juntos. O Monopólio a apontar as direcções para a riqueza futura. O cartão seguinte estava para o Monopólio como o Joker estava para o Poker. Era meio jogo ganho. Na verdade não era bem assim mas havia uma aura mística à sua volta que o tornava extremamente cobiçado. Mal sabíamos nós na altura o quão adequado e realista era o poder deste cartão. Livres da prisão, independentemente de já lá estarmos ou não. As crianças travam conhecimento com o conceito do indulto impessoal e diferido. O que é que passará pela cabeça de uma criança que subitamente percebe que não irá parar à prisão porque tem maneira de se safar? Ou que pode safar alguém da prisão (vendendo o cartão, como está explicitamente indicado). Dificilmente se encontra um jogo mais fiel à realidade do que o Monopólio e quase somos capazes de apostar que o seu inventor foi português. Não fosse pelo cartão seguinte. Labels: crianças, educação, jogos, Monopólio, quando os tempos eram outros
[ Zorn John]: O meu preferido: vá para a prisão. Vá directamente sem passar pela casa da partida e sem receber 2 contos.
[ Susie Derkins]: Fantástico! O que eu gostava de jogar este jogo quando era miúda.
Gostei de ler este post. Beijinho
[ Unknown]: lol. não me lembro de alguma vez ter acabado um desses jogos. e ainda bem, porque tambem nao me lembro de alguma vez estar a ganhar.
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