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No entanto, esta indiferença pode ter chegado ao fim e devo-o à revista Mundo da Pesca. Esta publicação mensal destaca-se naturalmente no escaparate graças ao seu cuidado e apelativo aspecto gráfico e à promessa de, em conjunto com o leitor, desvendar os mais fantásticos segredos. Eis a dita capa. Como não ficar seduzido com a expectativa de ver desvendados os segredos da rabeca, ainda por cima com o aval de um farto bigode, ornado por funcional panamá e ostentando orgulhoso o seu bojudo pescado? Folheando as páginas, cresce a expectativa sobre a rabeca e as suas manhas incógnitas e eis que a primeira revelação tem uma carga dramática inesperada. Com espanto e atestando a minha profunda ignorância no tema, vejo que afinal a rabeca não é um peixe, mas sim um acessório. E ainda por cima, não um acessório qualquer, e sim a própria salvação do pescador. -Então Morais? Essa pescaria? -Olha, se correu bem, foi graças à minha rabeca. -Pois... Eu sempre achei que tinhas uma bela rabeca. Navegando pelas páginas desta revista, vou ganhando alguma inveja ao ver o deleite com que os pescadores exibem o produto das suas jornadas. Alguma vez serei capaz de exibir tal orgulho e satisfação? Estará algum dia o meu espírito habilitado a espalhar tão gargalhante entusiasmo pela objectiva, como por exemplo este bem sucedido jovem? Ou o que dizer da próxima fotografia que ilustra tão adequadamente o tema A bexiga natatória? O franco sorriso, a cúmplice piscadela de olho quase nos confidenciando com garbo que nem a bexiga natatória conseguiu safar aquele desgraçado. A felicidade poderá muito bem ser qualquer coisa parecida com isto. Nota-se que o grafismo da revista é calculado ao pormenor. Veja-se este bonito detalhe de uma achigã de bocarra aberta. Se uma imagem vale por mil palavras, esta é um enorme poema. A estética da dentição é aliás bastante cultivada no meio, pelo menos pelo que se pode ver neste anúncio a uma edição especial da revista. É bem sabido que a goela aberta e os dentes arreganhados são a janela da alma peixeira. Outra curiosidade que salta aos olhos de quem folheia esta revista é a natureza magistral do pescador. Repare-se na fotografia que acompanha o artigo Panier, o trono do pescador. O panier, fiquei a saber, é o banquinho onde os pescadores se sentam. Correcção: é o trono ondem se sentam os reis pescadores. E ao ver esta fotografia, que dúvidas podem restar? Basta verificar a pose majestosa do monarca, empunhando o seu ceptro em direcção dos seus súbditos e veja-se o nobre e alvo tecido que pende no sumptuoso trono do conquistador. Mas ser pescador não é apenas ser rei. É ser Deus. E é um test drive a um carreto que no-lo mostra. Desenhado no Olimpo e apenas digno de um ser irreal. E com que pose divina os pobres mortais são agraciados... Há bastante publicidade espanhola nesta revista mas é preciso estar bastante atento para o notar. Por exemplo, este texto de 112 palavras tens uns meros 22 erros ortográficos, não falando dos gramaticais. Finalmente, termino o relato desta minha epifania com um anúncio que vai mudar a minha vida e sei lá eu a de quantos leitores. Aparentemente, é um anúncio normalíssimo a iscos canas de pesca. No entanto, uma leitura cuidada do texto promocional revela qualquer coisa de muito mais excitante até do que os segredos da rabeca. Já se sabia que a pesca é muitas vezes uma actividade solitária e foi por isso que a NBS fez a nova SPIN POWER. A nova SPIN POWER da NBS permite realizar um TWITCHING ou um JERKING sem cansar os braços. Agora percebo a paixão da pesca.
[ Zorn John]: Como se diz na Nazaré: "há maipêxe c'áreia!" Saiste-me uma bela truta salmonada, Golden ;p
[ ]: Uma vez que estou aqui em Espanha, estou a aceitar pedidos. Ajudo quem quiser melhorar o seu jerking, na boa, sem compromissos...
[ ]: O que queres de presente é uma cana! Porque não o admites!? tanta coisa para nos sugestionar, podias ser mais directo!
Vá: a toda a gente! uma vaquinha para oferecer uma cana, carreto, linha e um isco que dá beijos à francesa para o nosso Calvin!
[ ]: Revista sem visão comercial... onde já se viu... lançar uma edição sem publicar um artigo (mesmo que pequeno) sobre um peixe tão mediático como o tão popular "charroco"...
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